Sem rumo...
Colocou o vestido preto, a sandália de tirinhas que mal segurava no pé, a bolsa de festa azul turquesa. Maquiou os olhos como sempre - pretos com bastante rímel. Pegou a carteira, muito grande para a bolsa, por isso sempre acaba no porta-luvas do carro.
E saiu.
Sem rumo, sem destino, dirigindo sem direção. No rádio Chico Buarque. As músicas mais novas, aquelas que não são tão boas quanto as antigas. Mas, enfim, era Chico.
Resolveu parar e fumar um cigarro. Pensou no que podia acontecer, pensou no que estava preocupando-a. Se tinha tudo para ser feliz, porque então seu coração parecia tão triste? Segredos, não tinha. Mentiras, eram tão poucas... Saudades sim, essas eram eternas...
Mas porque agora, somente agora, a tristeza resolvia mostrar sua cara? No meio da noite, entre uma canção e outra, entre um cigarro e outro? Foi aí que percebeu: não, aquilo não era tristeza... e se fosse, passaria.
Tudo na vida não passa?
Ela também passaria.
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