A olhadinha...
"Por favor... cativa-me! - disse a raposa.
- Que é preciso fazer?
- É preciso ser paciente.
Sentarás primeiro longe.
Eu te olharei e tu não dirás nada. A linguagem é fonte de mal-entendidos.
Mas cada dia sentarás mais perto...
E virás sempre na mesma hora.
Se tu vens às 4, desde às 3 eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.
Às 4 horas, então, eu estarei inquieta e agitada:
descobrirei o preço da felicidade.
Mas se tu vens a qualquer momento,
nunca saberei a hora de preparar o coração...
Assim, o principezinho cativou a raposa.
Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho.
Eu não queria te fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis.
- Mas tu vais chorar!
- Vou.
- Então não sais lucrando nada!
- Eu lucro, por causa da cor do trigo. Vais rever as rosas e volta.
Tu compreenderás que a tua é única no mundo."
O Pequeno Príncipe
Quando soube que vinhas, desci correndo.
Não, não ia te esperar. Apenas resolvi fumar e, se coincidiu com a notícia de que você viria, fazer o que?
Escolhi um lugarzinho legal e sentei. Acendi o cigarro, bem blasé (existe palavra mais chique do que esta??), guardei o isqueiro amarelo dentro da bolsa e comecei a tragar.
Nunca, em toda minha vida, demorei tanto em cada baforada.
A cada carro que passava, pensava que podia ser você.
Até nos carros que não eram os teus, imaginava pequenas histórias, como se você pudesse ter batido o carro e, ao invés de esperar pela perícia, pediu o carro de algum motorista que passava na hora.
Oras, vai dizer que isso nunca aconteceu com você antes??
Cada passo, cada buzina, cada ruído que o vento fazia ao bater nas folhas daquela árvore, todas as pessoas que passavam por mim... eu sorria e pensava: como sou tola! provavelmente na hora que eu subir, ele aparece!
Mesmo assim, continuei ali, fingindo que não estava nem aí, com o coração pulando a cada segundo.
Nada.
Fiquei pensando que, a humilhação da espera deve ter matado milhares e milhares de nós.
"Mulher encontrada morta em ataque fulminante do miocárdio". Rum, miocárdio que nada! Aquilo ali foi a espera, a aflição de não saber se ele chegava ou não, que horas ele chegava e, até mesmo com quem vinha.
Foi pensando em muito, por pouco tempo, que me toquei: poxa, essa não sou eu.
Esperando alguém que não vem, consciente daquela humilhante situação, olhando para trás toda vez que estou em algum lugar.
- sabe aquela olhadinha que todas nós damos? aquela virada/olhada/coisa bem blasé/discreeeta que a gente pensa que todo mundo vai pensar que é para ver quem está na balada, só que todo mundo já sabe que a gente está é procurando ele...
Apaguei o pouquíssimo que restava do cigarro e subi.
E aí, quando pensei que tinha vencido aquela fraca que desceu para esperar, dei aquela olhadinha...
aquela virada/olhada/coisa bem blasé/discreeeta ...
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