Dizeres do coração
Após anos sem ver o antigo grupo, ela resolveu aceitar, enfim, mais um convite para o almoço.
Nossa, como elas continuavam as mesmas.
Cada uma tão diferente, tão singular. E, mesmo assim, elas pareciam estar em plena sintonia, conversavam como se todos os assuntos do mundo pudessem surgir assim, do nada, e virar tópico para profundo debate. As cores mais novas dos esmaltes no supermercado; o problema da crise financeira na Tailândia; as melhores matérias na revista do mês; o novo filme do Walter Salles; o paredão de hoje do Big Brother; do importante ao mundano, elas conseguiam tecer - às vezes por horas - qualquer assunto. Na mesa, as long necks acumulavam-se.
No rosto, sorrisos.
Poxa, quanto tempo faz que não vejo todas elas assim, reunidas? A resposta, ela sabia, não importava. Afinal, não fora ela que decidiu "boicotar" as reuniões? Não fora ela que decidiu ficar em casa e ser feliz? "Bom, valeu a pena", sua mente decidiu.
O coração, este não, assim como ela havia decidido não ir mais, o coração decidiu não ser enganado e gritou:
-Sinto saudades! Queria poder saber do que elas estão falando, estar por dentro das conversas tão íntimas que mais pareciam em código.
As horas passando e, em pouco tempo, iriam todas embora. Cada uma pegando seu rumo, caminhos diversos, afinal, eram pessoas diversas.
E ela? Prometeria voltar na próxima vez, enquanto elas prometiam que ligariam.
Devia ter mantido contato, devia ter saído mais com elas, devia ter feito tanta coisa.
Mas a razão dizia: "Bom, valeu a pena".
O coração, este não, tentava explicar que não importava o quanto ela mudasse ou quanto tempo passasse, ela sentiria saudades. Um dia, ela chegaria de mansinho, pareceria um leve incômodo, até tornar-se insuportável...
Mas a razão dizia: "Bom, valeu a pena"...
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